sábado, 6 de dezembro de 2014

Somos todos missionários

Somos todos missionários
A mensagem do reitor-mor para dezembro: Novamente o Senhor nos chama pelo nome, nos consagra e nos convida a sermos como o seu amado filho, Jesus Cristo, e a anunciá-lo. Eu vos convido e vos peço: sejam justos em Deus, sirvam sem privilégios e cumpram sempre a vontade do Pai.
Dom Bosco quis ter as Congregações e Institutos "de saída". Somos uma família que teve um Pai com um coração tão grande e apaixonado que não podia parar de sonhar e assim nos ofertou muitos sonhos missionários e que são, ainda hoje, os nossos sonhos.
Valdocco, Maria Auxiliadora, Expedições Missionárias: uma tríade preciosa para oferecer à humanidade, sobretudo aos jovens e aos mais necessitados da nossa aldeia global, o nosso carisma compartilhado do qual todos nós somos corresponsáveis. Uma tríade que nos faz chegar até o fim do mundo!
De fato, o nosso amado Dom Bosco a fez chegar até a longínqua e quase desconhecida Terra do Fogo, no extremo sul de outra região não menos inexplorada, a Patagônia, terra de povos corajosos abertos à transcendência e ao amor pela terra, pela criação. Aquela foi uma obra que necessitou de tantos sacrifícios e esforço, e que ajudou no crescimento e desenvolvimento não somente da fé, mas também da cultura e da sociedade nos países dessa região. Hoje temos um papa vindo dali e que, na audiência com o Capítulo Geral, nos expressou esse mandamento-desejo: “Les pido, no me dejen la Patagonia!” ("Vos peço, não abandonem a Patagônia!").
Gostaria de lhes deixar três lembretes, como fazia Dom Bosco. O primeiro se inspira no profeta Ezequiel e é esse:

Ser justo em Deus

Ser justo significa ser transparente, não ter palavras dúbias nem intenções ocultas. Somos chamados a sermos sinceros, às vezes astutos no sentido evangélico, como Jesus nos ensina, mas sempre homens e mulheres nos quais não há falsidade, como Natanael. Ser justo significa ser claro nas suas motivações, ser capaz de dizer a verdade sobre nós mesmos e aos outros.
Não se parte em missão (qualquer tipo de missão, inclusive a de reitor-mor) se alguém procura a si mesmo, se alguém procura o poder de impor-se aos outros, se alguém crê profundamente que aquilo que traz consigo, não somente tem um grande valor - seguramente o tem! - mas que é superior, melhor do que aquilo que encontrará nas pessoas e nos lugares que chegar. Ser justo em Deus é mergulhar plenamente no coração misericordioso de Deus que ama o pecador e lhe dá sempre uma outra oportunidade e sempre está disposto a recebê-lo e abraçá-lo como um filho amado que vem de longe...
Para ajudar-nos, o Salmo 25 nos ensina a orar com todo o coração: "Mostra-me, Senhor, os teus caminhos, / ensina-me tuas veredas. / Faz-me caminhar na tua verdade e instrui-me...".
A carta de Paulo aos Filipenses me inspira uma segunda palavra:

Servir sem privilégios

O apóstolo deixa para a história um dos hinos que seguramente os primeiros cristãos recitavam na liturgia. Um hino que é também um ato de fé: "Jesus Cristo, por estar na condição de Deus, não teve o privilégio de ser como Deus, mas despojou a si mesmo, assumindo uma condição de servo...".
Caríssimos, o nosso privilégio mais precioso é sermos chamados a viver como Jesus, que despojou a si mesmo assumindo uma condição de servo! Cada um de nós é, mesmo que de diversas maneiras, servo ou serva dos outros. Também aqui, a tentação natural do poder vem vacinada pelo exemplo claro e transformador de Jesus. Colocar-nos a serviço daqueles a que somos destinados, colocar-nos a serviço daqueles que são indiferentes, nos recusam ou combatem. Sermos colocados à prova e podermos cuidar de nós mesmos, da nossa comunidade, dos nossos irmãos e irmãs... mas com disposição de fazê-lo pela vida toda. Ir em missão é responder ao chamado de doar a própria vida até o último suspiro, como Dom Bosco fez pelos seus-nossos jovens. Que o nosso privilégio seja sempre o atendimento aos que têm mais necessidade, aos jovens em maior situação de risco e às populações mais pobres.
Enfim, chegamos à terceira palavra que eu gostaria de compartilhar com vocês:

Cumprir a vontade do Pai

Cumprir a vontade do Pai é a única perspectiva válida na nossa vida como batizados e consagrados. Não há outra. E a vontade do Pai não se cumpre por si, independentemente, acreditando-se em uma nova versão de salvadores. Nunca! Nenhum de nós é chamado a ser o Messias! Nenhum de nós é chamado a prescindir do discernimento comunitário, do trabalho em comum, de empenhar-se lado a lado com os outros educadores pastorais, e, apesar das distâncias, de não estar em profunda comunhão de alma e de intenções, de oração e afeto.
Irmãos e irmãs, o Senhor nos chama e nos convida a sermos discípulos missionários que vivem não somente o grande mandamento de Jesus de amarmos uns aos outros, mas de tornar realidade o sonho-desejo de Jesus que orou em sua despedida: "Pai Santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que eles sejam um, como nós somos um" (Jo 17,11).
Cumprir a vontade do Pai é testemunhar ao mundo que somos capazes de sermos irmãos e irmãs, entre nós e entre todos os homens e mulheres de boa vontade, além das crenças, da fé, da religião ou dos costumes.
Novamente o Senhor nos chama pelo nome, nos consagra e nos convida a sermos como o seu amado filho, Jesus Cristo, e a anunciá-lo. Eu vos convido e vos peço: sejam justos em Deus, sirvam sem privilégios e cumpram sempre a vontade do Pai.
Somente com a proteção maternal e terna de Maria, a Mestra de Dom Bosco, e com o seu ensinamento cotidiano, podemos nos tornar verdadeiros discípulos missionários e ajudar de tal maneira que"...cada língua proclame: 'Jesus Cristo é o Senhor!' a glória de Deus Pai".

Tradução: Elaine Tozetto
http://boletimsalesiano.org.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=3930:somos-todos-missionarios&Itemid=509

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CONSELHO AOS PAIS

CONSELHO AOS PAIS

25/05/09

Já na sua infância, desde cedo, não dê à ele tudo o que quiser, assim quando ele crescer, não ficará a espera que o mundo lhe dê o que deseja; Não ache graça de seu palavreado chulo e grosseiro; Inicie-o nos caminhos de uma educação religiosa, sem fanatismo, que não pregue a divisão e sim, a união do povo de Deus; Não apanhe tudo que ele deixar jogado: livros, brinquedos, sapatos, roupas e ... Habitue-o a guardar todos os seus pertences; Não faça tudo para ele. Ensine-o a fazer de tudo, a fim de que não seja um eterno dependente dos outros; Evite, a todo custo, discutir com freqüência na presença dele; Não o defenda, intransigentemente, contra seus professores. Apure os fatos com calma. Lembre-se que os professores são seus parceiros e não seus inimigos; Não tente dominá-lo querendo que ele seja a sua cópia, mas tente sempre persuadi-lo através de um diálogo sincero e amigo. Respeite sua personalidade; Finalmente, prepare-se para no futuro ter somente orgulho e alegria de ter realmente, criado um filho com dignidade; Lembre-se: se fizeres o contrário disto, corre o risco de uma vida futura cheia de angústias, decepções e lágrimas de dor. (Texto adaptado pelo Professor Francisco Jaegge)

LIMITES NA EDUCAÇÃO - Fábio Henrique Prado de Toledo

LIMITES NA EDUCAÇÃO - Fábio Henrique Prado de Toledo

Limites na educação

Fábio Henrique Prado de Toledo

Algum tempo atrás manifestei nesta coluna certa perplexidade com o Projeto de Lei n. 2.654/2003, com o que se pretendia proibir qualquer forma de punição corporal a crianças e adolescentes. Como disse naquela oportunidade, o assunto merece ser melhor refletido.

Penso que as “palmadas” nas crianças não são mesmo um recurso educativo a ser utilizado a todo momento. Mais ainda, conheço vários pais que conseguiram educar muito bem sem jamais ter sequer levantado a mão contra os filhos. Aliás, se analisarmos bem, muitas das vezes que se bate numa criança, faz-se porque o pai ou a mãe estão nervosos com outro assunto que os afligem e a travessura foi apenas o estopim. Outras vezes, quase sempre, bate-se porque não se tem paciência para explicar o porquê de não poder ela fazer algo, dando os motivos pelos quais sua conduta não é adequada e, sobretudo, expondo as boas razões para se proceder corretamente.

O problema de leis radicais como essa são as más interpretações que podem causar. Estou certo de que, tão-logo aprovada, não tardará em surgir nas escolas e nas famílias uma falsa concepção do tipo: não se pode fazer nada com o garoto que não obedece, pois do contrário pode ser “processado”. Ou, pior ainda, as próprias crianças poderão incorporar o falso conceito e se levantarem contra os educadores, pais e professores, numa arredia desobediência a qualquer tipo de ordem com o petulante argumento: “não pode fazer nada comigo, sou menor”.

Não há educação sem limites. Já relatei a história de um garoto que, durante uma viagem com os colegas de escola para um acampamento, se queixava com o professor de que seus pais não lhe davam liberdade, que dependia da autorização deles para quase tudo. Esse bom professor deu ao aluno uma brilhante lição, que merece ser contada novamente:

“Seus pais não permitem que você faça tudo o que quer porque o amam. Veja esse pequeno riacho, em sua nascente, uma margem é bem próxima da outra. É o que ocorre com uma criança pequena, de tudo dependem dos pais. O riacho, conforme vai avançando, as suas margens vão ficando cada vez mais distantes, até que deságüe no mar, onde não há mais margens. Assim deveriam os pais fazer com os filhos. A autoridade dos pais é a margem dos rios que permite que cheguem ao destino.

Quanto maior o rio, mais distantes as margens, quanto maior e mais responsável o filho, maior pode ser a sua autonomia. E veja, que bom que é a margem, imagine o que seria do rio sem ela? Veja aquela parte do rio em que a margem é menos resistente, parte da água caiu para fora e apodrece à beira do rio, não chegará ao mar. Assim acontece com os filhos que possuem pais fracos, que não desempenham a obrigação de exercer a autoridade: deixam seus filhos perdidos nas ribanceiras do mundo, não chegam ao mar".

Soube também do drama de uma adolescente que talvez ilustre o desastre que é a educação sem limites. Trata-se de uma jovem de quatorze anos que estava deprimida e resolveu fazer um tratamento psicológico. Depois de algumas sessões, ela acabou por deixar de escapar algo, aparentemente sem importância, mas que revelava a causa de sua “depressão”.

Disse ela: “quando as minhas amigas me convidam para algum passeio que eu não quero, gosto muito de dizer que meus pais não deixaram. É a desculpa que mais me agrada”. “Você sabe por que isso lhe agrada?”, perguntou o psicólogo. “Na verdade não sei”, prosseguiu ela, “os pais de minhas amigas sempre as proíbem de fazer algo que elas verdadeiramente gostariam, mas eles também conversam com elas, fazem programas juntos, penso que elas ganham um beijo dos pais antes de irem dormir...”. Ela não contém as lágrimas que escorrem, e depois conclui: “meus pais me deixam fazer tudo o que eu quero porque não gostam de mim. Fazem isso para que eu não os incomode, então eu costumo dizer a minhas amigas que me proíbem de fazer alguma coisa para que não percebam que meus pais não me amam”.

Comprometedor esse relato, não? É hora, pois, de levá-lo mais a sério.

Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Articulista do Correio Popular de Campinas e de alguns outros jornais. Casado, pai de 8 filhos e Membro do Conselho de Administração do Colégio Nautas.

e-mail: fabiotoledo@apamagis.com.br

Publicado no Portal da Família em 22/06/2010