quinta-feira, 10 de abril de 2014

Dom Bosco

Dom Bosco:
um mestre que educa discípulos


O que salta à primeira vista em Dom Bosco é seu carisma de educador. Sempre e em toda parte, Dom Bosco foi, é e será educador das novas gerações. Para conhecê-lo um pouco mais é importante apresentar alguns traços singulares de sua ação educativa.

A palavra educação tem sua origem na língua latina. Ex-ducere é uma palavra composta. O prefixo ex- significa para fora. O radical ducere significa conduzir, tirar. Educar seria tirar para fora todas as potencialidades, todas as possibilidades de uma pessoa. Como a chave do interior de uma pessoa é propriedade exclusiva dela, a educação é uma obra pessoal. Os chamados educadores são os facilitadores, os orientadores, os assessores nesta tarefa. Nisto Dom Bosco é mestre. Ele é mestre em corresponsabilizar as crianças, adolescentes e jovens em sua educação. Toda educação é uma proposta que pode ser aceita ou recusada. A aceitação, em geral, brota da capacidade de formular a proposta da maneira mais convincente e convicta.

Educação é obra do coração
Esta expressão é atribuída a diversos santos e também a Dom Bosco. Isto quer significar que a educação tem que atingir o mais profundo da pessoa. Na Bíblia, na tradição popular e nas diversas religiões, atingir o coração significa atingir o centro de decisão mais profundo da pessoa. Educação é obra de profundidade e não de superficialidade. Além disso, educação é obra do coração porque cria vínculos. O melhor livro didático é o professor. O melhor texto de catequese é o catequista. Educa-se criando laços, apresentando modelos e pessoas significativas.

A graça da unidade
Dom Bosco é o santo que nunca olha a pessoa a partir de uma única dimensão. Só religião não é bom. Só razão, também não. A emoção sozinha também é perigosa. Por isso, Dom Bosco propõe religião, razão e emoção. As três juntas dão a dimensão da integralidade... Dificilmente Dom Bosco propõe uma única dimensão para a educação da pessoa. Assim: “bom cristão porque honesto cidadão”. Também: saúde, sabedoria, santidade.

Protagonismo diferenciado e complexo
Impressiona muito quem conhece a vida de Dom Bosco e seu trabalho educativo, a quantidade de jovens que ele encaminhou para a santidade. Citamos apenas alguns: Domingos Sávio, Luis Orione, Luis Guanella, Miguel Rua, Felipe Rinaldi, José Alamano, Maria Mazzarello... São muitos os jovens santos que viveram no Oratório de Dom Bosco. Além disso, de meninos difíceis, em situação de vulnerabilidade, ele foi capaz de construir personalidades robustas tanto para as famílias, quanto para a cidade e a pátria. O trabalho de grupo (companhias religiosas, chamado por ele) caracterizou a metodologia educativa de Dom Bosco

Resiliência
Não há pessoa perdida. Na linha da tradição cristã, Santo Agostinho dizia que o pior dos homens é melhor que o mais elevado animal. Isto porque o animal só pode ser treinado e o pior dos homens, pode restaurar em si a dignidade. É de Dom Bosco a frase: “em todo jovem, mesmo no mais difícil, há sempre uma corda sensível ao bem. Cabe ao educador descobri-la e a partir dela reconstruir a sua vida”. Não há jovem perdido, sobretudo hoje quando as ciências humanas avançaram tanto: pedagogia, sociologia, psicologia... Mais ainda, no mais profundo do coração humano, o Espírito Santo de Deus continua influenciando as pessoas.

Horizontes
Um dos critérios mais correntes para escolher uma profissão é “ganhar dinheirohttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png”. As escolhas são feitas nesta linha. É muito pouco. A pessoa não pode ser reduzida à sua dimensão econômica. Conversando com um jovem noivo perguntei-lhe se estava com a data de casamento marcada. Ele respondeu que ainda não. Por quê? Porque, dizia ele, toda pessoa tem que ter quatro maturidades para assumir o compromisso com um casamento: a física, a psicológica, a econômica e a espiritual. Dizia-me ele que tinha duas destas maturidades bem encaminhadas: a física e a econômica. Faltava-lhe, no entanto, crescer ainda nas dimensões psicológica e espiritual. É verdade. Educar é propor horizontes altos, profundos e transcendentes.

Caridade promocional e libertadora
Dom Bosco viveu numa época de grandes reformas educacionais. Ele se engajou em todas elas de forma crítica e entusiasta. Se há um santo que lutou para proporcionar escola para as novas gerações foi ele. Dom Bosco forneceu três tipos de pães para os jovens: o pão da padaria, o pão da educação e o pão da eucaristia. Para ele, estes três pães estavam entrelaçados. A casa de Dom Bosco sempre foi a casa do pão. Para ele, honesto cidadão é quem tem uma profissão e um trabalho de onde tirar o sustento para si e para sua família. Nisto ele foi exemplar e persistente.

Gradualidade
Há uma expressão que Dom Bosco usou com certa frequência: “o ótimo é inimigo do bom”. O ótimo é inimigo do bom quer dizer que a medida alta é proposta para todos, mas é vivida de forma diferente por todos. O Oratório Salesiano é para todos e respeita a caminhada de todos. A quem vem à casa salesiana só porque o estudo é bom e forte, oferece-se também a possibilidade do voluntariado, do alto padrão ético, da solidariedade, da santidade. Tanto é que a educação salesiana não é minimalista que já possibilitou o surgimento do único santo adolescente da Igreja Católica não mártir que é São Domingos Sávio (1842-1857).

Na escola do Mestre
Certa vez participei de um diálogo com dois ateus. Eles afirmavam que acreditar em Deus significava terceirizar a vida, entregar para outro o sentido da própria vida. Isto era perder a própria autonomia. Disse-lhes que eles tinham o direito de pensar assim, mas também eu tinha o direito de pensar diferente. Como posso ser fundamento de minha própria vida se sou tão frágil, tão inconstante, tão pecador? O fundamento de minha vida é alguém que é fiel, constante, reto no agir. Não significa ser prepotente, mas coerente. A coerência humana é muito frágil. A coerência faz parte do ser e agir de Deus. Ele é constantemente e sempre: bom, belo e verdadeiro. Colocar-se na escola do Mestre Jesus é aceitá-lo como fundamento da própria vida. Seguir Jesus no final e no fundo é o grande objetivo da educação dos que põem o seu Evangelho como seu horizonte e sua perspectiva.

http://www.boletimsalesiano.org.br/index.php/noticias-bs/item/2866-dom-bosco-um-mestre-que-educa-discipulos

CONSELHO AOS PAIS

CONSELHO AOS PAIS

25/05/09

Já na sua infância, desde cedo, não dê à ele tudo o que quiser, assim quando ele crescer, não ficará a espera que o mundo lhe dê o que deseja; Não ache graça de seu palavreado chulo e grosseiro; Inicie-o nos caminhos de uma educação religiosa, sem fanatismo, que não pregue a divisão e sim, a união do povo de Deus; Não apanhe tudo que ele deixar jogado: livros, brinquedos, sapatos, roupas e ... Habitue-o a guardar todos os seus pertences; Não faça tudo para ele. Ensine-o a fazer de tudo, a fim de que não seja um eterno dependente dos outros; Evite, a todo custo, discutir com freqüência na presença dele; Não o defenda, intransigentemente, contra seus professores. Apure os fatos com calma. Lembre-se que os professores são seus parceiros e não seus inimigos; Não tente dominá-lo querendo que ele seja a sua cópia, mas tente sempre persuadi-lo através de um diálogo sincero e amigo. Respeite sua personalidade; Finalmente, prepare-se para no futuro ter somente orgulho e alegria de ter realmente, criado um filho com dignidade; Lembre-se: se fizeres o contrário disto, corre o risco de uma vida futura cheia de angústias, decepções e lágrimas de dor. (Texto adaptado pelo Professor Francisco Jaegge)

LIMITES NA EDUCAÇÃO - Fábio Henrique Prado de Toledo

LIMITES NA EDUCAÇÃO - Fábio Henrique Prado de Toledo

Limites na educação

Fábio Henrique Prado de Toledo

Algum tempo atrás manifestei nesta coluna certa perplexidade com o Projeto de Lei n. 2.654/2003, com o que se pretendia proibir qualquer forma de punição corporal a crianças e adolescentes. Como disse naquela oportunidade, o assunto merece ser melhor refletido.

Penso que as “palmadas” nas crianças não são mesmo um recurso educativo a ser utilizado a todo momento. Mais ainda, conheço vários pais que conseguiram educar muito bem sem jamais ter sequer levantado a mão contra os filhos. Aliás, se analisarmos bem, muitas das vezes que se bate numa criança, faz-se porque o pai ou a mãe estão nervosos com outro assunto que os afligem e a travessura foi apenas o estopim. Outras vezes, quase sempre, bate-se porque não se tem paciência para explicar o porquê de não poder ela fazer algo, dando os motivos pelos quais sua conduta não é adequada e, sobretudo, expondo as boas razões para se proceder corretamente.

O problema de leis radicais como essa são as más interpretações que podem causar. Estou certo de que, tão-logo aprovada, não tardará em surgir nas escolas e nas famílias uma falsa concepção do tipo: não se pode fazer nada com o garoto que não obedece, pois do contrário pode ser “processado”. Ou, pior ainda, as próprias crianças poderão incorporar o falso conceito e se levantarem contra os educadores, pais e professores, numa arredia desobediência a qualquer tipo de ordem com o petulante argumento: “não pode fazer nada comigo, sou menor”.

Não há educação sem limites. Já relatei a história de um garoto que, durante uma viagem com os colegas de escola para um acampamento, se queixava com o professor de que seus pais não lhe davam liberdade, que dependia da autorização deles para quase tudo. Esse bom professor deu ao aluno uma brilhante lição, que merece ser contada novamente:

“Seus pais não permitem que você faça tudo o que quer porque o amam. Veja esse pequeno riacho, em sua nascente, uma margem é bem próxima da outra. É o que ocorre com uma criança pequena, de tudo dependem dos pais. O riacho, conforme vai avançando, as suas margens vão ficando cada vez mais distantes, até que deságüe no mar, onde não há mais margens. Assim deveriam os pais fazer com os filhos. A autoridade dos pais é a margem dos rios que permite que cheguem ao destino.

Quanto maior o rio, mais distantes as margens, quanto maior e mais responsável o filho, maior pode ser a sua autonomia. E veja, que bom que é a margem, imagine o que seria do rio sem ela? Veja aquela parte do rio em que a margem é menos resistente, parte da água caiu para fora e apodrece à beira do rio, não chegará ao mar. Assim acontece com os filhos que possuem pais fracos, que não desempenham a obrigação de exercer a autoridade: deixam seus filhos perdidos nas ribanceiras do mundo, não chegam ao mar".

Soube também do drama de uma adolescente que talvez ilustre o desastre que é a educação sem limites. Trata-se de uma jovem de quatorze anos que estava deprimida e resolveu fazer um tratamento psicológico. Depois de algumas sessões, ela acabou por deixar de escapar algo, aparentemente sem importância, mas que revelava a causa de sua “depressão”.

Disse ela: “quando as minhas amigas me convidam para algum passeio que eu não quero, gosto muito de dizer que meus pais não deixaram. É a desculpa que mais me agrada”. “Você sabe por que isso lhe agrada?”, perguntou o psicólogo. “Na verdade não sei”, prosseguiu ela, “os pais de minhas amigas sempre as proíbem de fazer algo que elas verdadeiramente gostariam, mas eles também conversam com elas, fazem programas juntos, penso que elas ganham um beijo dos pais antes de irem dormir...”. Ela não contém as lágrimas que escorrem, e depois conclui: “meus pais me deixam fazer tudo o que eu quero porque não gostam de mim. Fazem isso para que eu não os incomode, então eu costumo dizer a minhas amigas que me proíbem de fazer alguma coisa para que não percebam que meus pais não me amam”.

Comprometedor esse relato, não? É hora, pois, de levá-lo mais a sério.

Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Articulista do Correio Popular de Campinas e de alguns outros jornais. Casado, pai de 8 filhos e Membro do Conselho de Administração do Colégio Nautas.

e-mail: fabiotoledo@apamagis.com.br

Publicado no Portal da Família em 22/06/2010