São freqüentes os cursos sobre de técnicas de vendas e de convencimento ou de aprimoramento profissional, muitos deles abarrotados de pessoas, ainda que se pague um custo elevado por isso. Por outro lado, são não poucas as iniciativas que buscam aprimorar as qualidades humanas das pessoas, cuja procura é demasiado pequena, se comparada com os benefícios que trariam, ainda que muito pouco ou nada se cobre por isso. E o motivo não é difícil de se encontrar: as pessoas acreditam e querem melhorar o mundo, mas se esquecem de que, para isso, é preciso antes melhorar a si próprias, e melhorar exatamente enquanto ser humano, nos seus atributos mais essenciais.
Pode-se conceituar a virtude como um hábito bom, como uma certa disposição interna e duradoura da pessoa para atuar bem em determinadas situações ou aspectos de sua vida. Não se tratam de atos isolados, mas de uma certa tendência, que se adquire através de um esforço reiterado em atuar de determinada maneira. Tomemos por exemplo a sinceridade. Pode ocorrer desde a infância uma certa propensão a mentir, por vários motivos (livrar-se de um apuro, encontrar uma desculpa para não fazer o que não se gosta etc), de modo que, em certas situações, é custoso dizer a verdade. Porém, se a pessoa vence uma barreira inicial e diz a verdade, ainda que isso aparentemente o prejudica, e o faz uma vez e outra, e reiteradamente pratica o ato bom, chegará um tempo em que lhe será muito custoso mentir e, ao contrário, fácil dizer a verdade em qualquer situação. Pode-se dizer, assim, que adquiriu a virtude da sinceridade.
E isso ocorre com as outras virtudes, como a generosidade. Quanto a essa, é comum a criança, até certa idade, ser um pouco egoísta, não querer compartilhar suas coisas com os demais. Assim, se ela é ajudada oportunamente, custará vencer-se num primeiro momento a emprestar um brinquedo, por exemplo. Mas na reiteração de atos em que se vencem as resistências naturais, cria-se o hábito e, com ele a virtude.
O que muitos de nós ignoramos, porém, é que há fases de nossas vidas em que se é mais fácil adquirir determinadas virtudes. Por exemplo, a obediência, que mais tarde se transforma no respeito às normas existentes numa sociedade, pode e deve ser trabalhada já na primeira infância, pois a criança está muito mais receptiva a isso que o adulto. A laboriosidade, a lealdade, o companheirismo, enfim, todas as demais têm suas idades ideais e, em geral, são muito mais fáceis de serem arraigadas na pessoa se trabalhadas desde a infância.
Para se ter uma idéia da importância de se educar a virtude na hora certa, podemos fazer uma comparação com o estudo de línguas. Um adulto que se dispõe a aprender um idioma, com esforço e dedicação, o conseguirá. Porém, levará um tempo razoável e dificilmente eliminará por completo o sotaque que terá na nova língua. À criança, ao contrário, podem ser ensinadas várias línguas, e elas as apreenderá com muito mais facilidade e não terá sotaques em nenhuma delas.
Atendo a isso, os pais e a escola têm grave obrigação de ajudar os filhos e alunos a adquirir as virtudes desde pequenos, pois, do contrário, os anos passam e tudo fica mais difícil, ainda que, nesse terreno, nunca é tarde para começar, mas também nunca é cedo para justificar nada fazer.
É importante e é urgente que pais e escola, com grande sintonia, tracem um plano inclinado para os filhos e alunos, ponderando cada virtude pode e deve ser melhor trabalhada em cada fase de suas vidas.
E o mais interessante e positivo nisso é que as virtudes nunca estão isoladas. Assim, é estimulante notar que, quando ajudamos uma criança a ser generosa, ao mesmo tempo cresce nela a responsabilidade; quando ela cresce em laboriosidade, cresce também em sinceridade.
E imaginemos como não será a nossa sociedade no futuro com um trabalho sério e perseverante com nossas crianças nesse sentido. Vale a pena – como diria o poeta – se a alma não é pequena.
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